Clarice Lispector: “Sou tão misteriosa que não me entendo”


"Escrever é procurar entender, é procurar reproduzir o irreproduzível, é sentir até o último fim o sentimento que permaneceria apenas vago e sufocador. Escrever é também abençoar uma vida que não foi abençoada."



Disse coisas que eu gostaria de ter dito antes...
É um dom dar luz aquilo que é inexplicável a razão apenas pela singeleza das palavras empregadas com tanta boa-fé e riqueza... mesmo assim sem tornar racional/lógico. Riqueza não das palavras, mas da tentativa do sentimento escapulir de dentro e fazer-se em acepção clara, obvia e transferível em um texto, porém deixando seu significado inacabado e com lacunas a serem preenchidas, mas que no fundo, pela amplitude e diversidade que se constitui, nunca poderão ser... Eis então a graça! A graça da singularidade pessoal, a graça dos diversos sentidos que pode tomar e a graça de saber que talvez só eu tenha entendido ou nem mesmo eu entenda na realidade... Eis a graça!

"Escrevo porque encontro nisso um prazer que não consigo traduzir. Não sou pretensiosa. Escrevo para mim, para que eu sinta a minha alma falando e cantando, às vezes chorando..."

Assim é o prazer ler o que se escreve. Não posso dizer que emerge o mesmo prazer, mas é um prazer surpresa. Uma identificação intima com algo que outro registrou, é a descoberta e muitas vezes o amparo... “Amar de longe” aquele que te acolheu e ajudou no reconhecimento dos seus próprios sentimentos... Seja pela aceitação ou pela negação.

“Quando tiraram os pontos de minha mão operada, por entre os dedos, gritei. Dei gritos de dor, e de cólera, pois a dor parece uma ofensa à nossa integridade física. Mas não fui tola. Aproveitei a dor e dei gritos pelo passado e pelo presente. Até pelo futuro gritei, meu Deus!”

Concepções que recusam completamente definições lógicas. O subentendido.