Ressaca Emocional
Ela terminou o namoro com você há sete meses, mas parece que foi ontem, de tão ligeiro que o tempo passou. Você saiu com outras garotas neste período, não chegou a namorar ninguém, mas está feliz, curado da dor-de-cotovelo e muito a fim de encontrar alguém. E encontra. Ela. A própria. Sua ex. Com o novo namorado no cinema. Tudo bem? Tudo bem. Vocês se cumprimentam feito gente civilizada e cada um vai sentar no seu lugar. Incrível como você não sentiu nada, está mesmo curado. No dia seguinte acorda às 5 da manhã e fica revirando na cama. Não entende como foi que perdeu o sono, mas perdeu. Depois de ficar fritando pra lá e pra cá, como se a cama fosse uma chapa quente, levanta, toma um banho e vai pro trabalho de ônibus. No walkman, toca uma música que faz você se sentir um traste. Sua garganta aperta e você nem está de gravata. Cara, por pouco você não chora. A manhã, que costuma passar depressa, passa arrastada, e a tarde, que costuma passar arrastada, simplesmente não passa. Você não olha para ninguém e também ninguém lhe vê. Como é que este pessoal não nota que eu estou deprê? Só então você se dá conta de que está deprê, e começa a desconfiar por qual razão. Não pode ser TPM porque você não menstrua, seu time não perdeu ontem porque não jogou e o filme que você foi ver não o deixou sensível porque era um besteirol cretino. Mas por causa dela não pode ser. Não pode. Você não sente mais nada por ela, às vezes até consegue esquecer que ela existe. Tá bom, pensa nela só um pouquinho. Muito pouquinho. E já supunha que ela estaria namorando. É bonita, esperta, sensual: não ia ficar sozinha a vida toda. E você também já saiu com outras gatas, só não está namorando porque não quer. Se quisesse estaria com uma mulher a cada dia. Se quisesse, estaria sim. Bastava querer. Você volta pra casa e abre uma cerveja. Abre duas. Ainda não inventaram nada melhor pra curar uma ressaca, você pensa, e só então, chora.
Ela terminou o namoro com você há sete meses, mas parece que foi ontem, de tão ligeiro que o tempo passou. Você saiu com outras garotas neste período, não chegou a namorar ninguém, mas está feliz, curado da dor-de-cotovelo e muito a fim de encontrar alguém. E encontra. Ela. A própria. Sua ex. Com o novo namorado no cinema. Tudo bem? Tudo bem. Vocês se cumprimentam feito gente civilizada e cada um vai sentar no seu lugar. Incrível como você não sentiu nada, está mesmo curado. No dia seguinte acorda às 5 da manhã e fica revirando na cama. Não entende como foi que perdeu o sono, mas perdeu. Depois de ficar fritando pra lá e pra cá, como se a cama fosse uma chapa quente, levanta, toma um banho e vai pro trabalho de ônibus. No walkman, toca uma música que faz você se sentir um traste. Sua garganta aperta e você nem está de gravata. Cara, por pouco você não chora. A manhã, que costuma passar depressa, passa arrastada, e a tarde, que costuma passar arrastada, simplesmente não passa. Você não olha para ninguém e também ninguém lhe vê. Como é que este pessoal não nota que eu estou deprê? Só então você se dá conta de que está deprê, e começa a desconfiar por qual razão. Não pode ser TPM porque você não menstrua, seu time não perdeu ontem porque não jogou e o filme que você foi ver não o deixou sensível porque era um besteirol cretino. Mas por causa dela não pode ser. Não pode. Você não sente mais nada por ela, às vezes até consegue esquecer que ela existe. Tá bom, pensa nela só um pouquinho. Muito pouquinho. E já supunha que ela estaria namorando. É bonita, esperta, sensual: não ia ficar sozinha a vida toda. E você também já saiu com outras gatas, só não está namorando porque não quer. Se quisesse estaria com uma mulher a cada dia. Se quisesse, estaria sim. Bastava querer. Você volta pra casa e abre uma cerveja. Abre duas. Ainda não inventaram nada melhor pra curar uma ressaca, você pensa, e só então, chora.
Martha Medeiros