
E eu descanso na tarde minha
velhice precoce
Estendo a visão, que ainda tenho
boa, ao limite de minha imaginação
ainda jovem.
Vejo através dos edifícios as
montanhas de pedra ferrosa
que fazem parte da cor do meu
sangue.
Vejo as ruas nas serras,
dependuradas na natureza, a
desafiar:
- quem se atreve?
Vejo o sol dando o último sorriso do
dia, escondendo-se atrás da
montanha mais alta
Qual?
Vejo que venta bastante,
pois o ar se lamenta de tanto
trabalho de se desviar de talvegues
de ruas e morros.
Vejo que o azul daquele céu
reluta em permanecer intocado
Azul infinito e sem mácula,
absolutamente azul
Vejo que ainda sonham poetas
e cantam e bebem, inventando
amores. E riem das falsas meninas,
que atravessam as esquinas
vendendo favores.
Vejo que o gosto das casas
é o gosto das almas de mineradores
Vejo nas manhãs de descanso
o descanso de ruas que vi borbulhar.
Depois o almoço em família,
a conversa fiada, lar.
Eu vejo, de passagem na ponte,
um belo horizonte no meu olhar
E choro, saudade infinita,
mas boa e bendita a me alimentar. A
tarde morre devagar.
E eu descanso na tarde minha
velhice precoce.